Quem já assistiu à Ilha da Fantasia deve se lembrar do Tatoo. Pois foi seu irmão mais alto que nos acolheu com mimos e colares de flores no aeroporto de Mumbai às 2horas da manhã, quando aqui chegamos. Subimos num ônibus enorme, com ar condicionado, que estará à nossa disposição durante toda a estadia. O nome da empresa é bem sugestivo: Cozy Auto Tours. (Turismo automobilístico Aconchegante).
O café da manhã tomei no quarto mesmo, pois aqui não há um refeitório. O mais curioso foi o menu: torradas amanteigadas e um vidro de ketchup acompanhando. Para beber, café com leite já adoçado. Mais tarde, Fátima, Hanna e eu descobrimos, com os companheiros de viagem, que havia um cardápio no quarto e que poderíamos ter pedido algo diferente.
Meus primeiros dois dias na Índia foi como se eu tivesse entrado num filme antigo, mas não estivesse reconhecendo o roteiro. Tudo era quase alguma coisa que eu já experimentara porém, de uma hora pra outra, o controle remoto avançava para um novo canal e o estranhamento voltava. O engraçado é que o canal avançava tanto pro mais-que-passado quanto para o futuro. Incrível, isso! Sensações bastante desconcertantes. Por exemplo, no city tour eu percebia lindas construções ultra-modernas, mas também favelas que atropelavam a rodovia principal. Uma casa antiga me encantava olho adentro pela janela do ônibus até que uma parede totalmente em ruínas dava o 'acabamento final' à construção. Da janela do quarto, eu percebia os homens passando de calça comprida escura e camisa social - que nem no interior de Minas. De repente, entrava uma mulher na cena, vestindo um sari multicor da cabeça aos pés, manejando um Blackberry. Nunca a ideia de 'impermanência' me pareceu tão óbvia.
Algumas atitudes dos indianos também me surpreenderam: ao pedir desculpas para um rapazinho por ter me esbarrado nele na rua cheia, ele me devolveu um sorriso tão largo e amável, que quase valeu à pena tê-lo empurrado... Do mesmo modo, meus olhos se encheram de lágrimas quando, da janela do ônibus super luxuoso em que fazíamos o city tour, recebi beijos, aplausos e tchauzinhos de três crianças pobres - uma garota e talvez seus dois irmãozinhos menores. Cheguei a me envergonhar porque, a princípio, pensei que iriam me pedir dinheiro... mas não! Eles estavam realmente me dando um belo presente.
Para terminar as primeiras impressões, não posso deixar de mencionar um homem que simplesmente entrou na frente da minha câmera quando eu tentava bater uma foto de uma casa em ruínas a beira mar. Seu gesto foi tão espontâneo que só me restou inclui-lo no retrato, em primeiro plano.