quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Rajgir

A terra do Budha fica em Bihar, o estado mais pobre da Índia. Chegamos à cidade de Rajgir após 12 horas de viagem, entre avião e ônibus. Mesmo cansada, não consegui despregar o olho da janela, pois a miséria dessa gente é mesmo chocante. Por outro lado, eram lindos os arrozais e campos de trigo, as flores amarelas da mostarda. O trânsito estava tão intenso que atrasamos uma hora para chegar ao melhor hotel do lugar - um hotel japonês, mais ou menos circular, com uma sala de meditação no centro, onde se via uma bela e enorme estátua do Buddha. Quatro estrelas - que contraste com tudo que vimos ali!
 





Vários pontos altos marcaram Bihar, dia 30/12: a subida de teleférico à mais alta montanha, onde fica a Estupa da Paz, construída pelos japoneses em homenagem ao Buddha. A descida à pé, parando no Pico dos Abutres, logo abaixo, onde o Buddha teria proferido vários dos ensinamentos constantes nos Suttas. A visita ao site onde fora a prisão do rei Binbisara, deposto pelo filho, com vista para o Pico dos Abutres. Só ficaram as pedras da fundação, marcando, no chão, a planta de uma antiga casa de madeira. O guia nos contou, em detalhes, a tragédia entre o rei e seu filho que, por sinal, mais tarde também foi deposto pelo filho...

Tudo isso só de manhã e, à tarde, uma breve visita ao Parque dos Bambus - primeiro lote doado ao Buddha para a formação de uma sangha budista. Local maravilhoso, com lago, patinhos, repuxos d'água e muitas outras árvores além dos bambuzais, hoje poucos.




Finalmente, o ponto mais alto do dia: uma visita demorada às ruínas da antiga Universidade de Nalanda, seguida de uma apresentação em powerpoint na Nova Universidade de Nalanda, onde fomos recebidos por nada menos que o diretor, extremamente cordial. Concedeu-nos inclusive uma sessão de perguntas e respostas. Minhas anotações dariam um livreto à parte.

O incrível das ruínas é que pode-se reconhecer a reconstrução desse imenso campus universitário - o primeiro no mundo, me parece - ao longo dos séculos. Ao final de cada século, tudo era destruído, coberto por areia, e os reis reconstruíam por cima, outro andar, seguindo fielmente a planta de baixo. Num local, havia, por exemplo, três lances de escada, um colado ao outro, mostrando escavações de três períodos diferentes da história daquele local. Nalanda teria sido construída e reconstruída ao longo de 1000 anos por muitos reis, cada qual adicionando mais uma parte. Não eram apenas ensinamentos do Buddha que se aprendia na Antiga Nalanda, mas outros tipos de conhecimento mundano também, como a Astronomia e Astrologia, e ainda o sânscrito.

Como se não bastasse tanta cultura e informações preciosas - viva Deepak Anand, um assistente social autodidata que trabalha com turismo religioso, especialmente o Budista - ainda tivemos a sorte de visitar, rapidamente, o memorial de Xuan Zang, o chinês que veio à Índia  a pé para conhecer os verdadeiros ensinamentos do Buddha. Local maravilhoso também, que conta sua história através de pinturas nas paredes.

A boa nova é o projeto de Revivência das Antigas Peregrinações do Buddha. Assim, está-se construindo, para os futuros peregrinos budistas, 4 trilhas principais: a trilha da Renúncia; a do Primeiro Ensinamento; a da Morte e a da Árvore Bodhi.

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